ESPETÁCULO MULTICÊNICO
Ao ocupar e ressignificar o espaço urbano do Viaduto Otávio Rocha, uma das mais representativas construções arquitetônicas de Porto Alegre/RS, integrando diferentes linguagens artísticas em processos colaborativos, o espetáculo multicênico (DE)COLAGEM, baseado na obra inédita de Luís Artur Nunes e Caio Fernando Abreu, é uma experiência inovadora. Artes Vivas, Artes Visuais e Audiovisual atuam juntos na criação e produção do espetáculo, o qual pode ser assistido presencialmente, em apresentações nos dias 21, 22 e 23 de junho de 2018 às 20h, mas também pode ser acessado através do tour virtual 360° por qualquer pessoa a qualquer momento. Em ambas as situações, o espectador é interator da obra, pois é ele quem faz a colagem das cenas que decolam em sua direção.
O espetáculo (DE)COLAGEM contará com as seguintes áreas e subáreas:
• Artes Vivas – Criação, produção e apresentação de obras de Teatro, Dança e Música;
• Artes Visuais – Criação, produção e exposição de obra visual;
• Audiovisual – Criação, produção e projeção de obra audiovisual.
(DE)COLAGEM, de Luís Artur Nunes e Caio Fernando Abreu, enquanto “um exercício em torno de metamorfoses”, apresenta uma estrutura surpreendente devido a um continuum de eventos, um fluxo ininterrupto de imagens, em que ocorrem mudanças, repetições, permutações. Sem enredo óbvio, a peça traz diálogos vigorosos e inusitados intermediados por narradores que apontam à livre interpretação por parte do público, que é interpelado a participar do espetáculo relacionando-se com as imagens propostas e a elas conferindo sentidos.
Os diálogos originais de (DE)COLAGEM sugerem metamorfoses, possibilitam transformações da dramaturgia em obras de Artes Vivas, Artes Visuais e Audiovisual. A obra dramática de Caio F. constitui sólida base para a criação em arte, pois as sensações descritas no texto têm a capacidade de fazer reagir os artistas em obras preenchidas por um grande teor lírico encontrado na poesia do autor.
Tendo a concepção coletiva como método de potencialização do espetáculo, artistas portoalegrense formam um grupo de trabalho onde dividem a criação e a produção de (DE)COLAGEM, comprometidos com a pesquisa e com a inovação da peça, intervindo ativamente no processo criativo. Os artistas trabalham tanto em cocriação, quanto em produção colaborativa, pois partem da mesma proposta, buscando diferentes soluções para transformar a obra dramatúrgica em obras de Teatro, Dança, Música, Imagem e Audiovisual, mantendo as especificidades de suas áreas e podendo interferir nos processos das demais áreas, contribuindo uns com os outros no que chamamos de espetáculo multicênico.
"Multicênico" porque diferentes cenas ocorrem simultaneamente, sendo destes fragmentos que acontecem no mesmo espaço-tempo, que o público compõe o seu espetáculo. Ou seja, as cenas, os quadros, as artes podem atuar sozinhas, independentemente umas das outras, mas é na junção delas, na colaboração entre elas, que o espectador confere sentidos, significando o espetáculo a partir da colagem que ele mesmo faz.
Além de unir diferentes linguagens artísticas, o espetáculo, ao ocupar o espaço urbano do Viaduto Otávio Rocha, no Centro Histórico de Porto Alegre/RS, ressignifica um local que está entregue ao abandono. Sob o Viaduto, existem diversos comerciantes; sobre, funcionam bares, restaurantes, academias e o Teatro de Arena. Por suas marcantes características arquitetônicas e sua relevância sociocultural, o Viaduto foi tombado como patrimônio de Porto Alegre em 1988. Entretanto, encontra-se abandonado e mal conservado: durante o dia, quem passa por ele fica inseguro, pois o risco de assalto é iminente; já durante a noite, moradores de rua em vulnerabilidade social acampam sob os arcos.
Com isso, promover um espetáculo multicênico que ocupa o Viaduto Otávio Rocha em sua totalidade traz visibilidade, chamando a atenção não apenas para as condições da construção, como também para aqueles que por ali transitam, desta forma trazendo à luz uma reflexão para as possibilidades de revitalização do espaço através de atividades artísticas que ocupam e ressignificam o espaço urbano por meio da integração entre diversas formas de arte.
Apresentado na rua, (DE)COLAGEM pode ser assistido tanto no momento das apresentações, quanto a qualquer momento posterior, de qualquer lugar, por qualquer pessoa através de um tour virtual 360°, onde o espectador decide o que, quando e como ver, sem ficar limitado ao espaço-tempo da apresentação presencial, tornando-se interator da obra.
Em síntese, o projeto pode ser descrito como um processo de interlocução entre diferentes linguagens artísticas e como revitalizador de espaços urbanos. Nele, a pesquisa literária, a partir de um texto que fornece suporte seguro às criações artísticas, possibilita a busca por uma profunda sintonia entre as artes e a riqueza dramatúrgica de Caio F., tudo acontecendo ao mesmo tempo, no mesmo espaço em meio à agitação da cidade.